Fiocruz apresenta estudos inéditos sobre mulheres grávidas e zika 1h2k1v
02.08.2016 b1s58
Duas pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Patrícia Galvão terão seus dados serão comentados por pesquisadores da Fiocruz

Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres, no lançamento das pesquisas qualitativa e quantitativa
Na Fiocruz se apresentaram, nesta terça-feira, 2/8, duas pesquisas inéditas – uma quantitativa e outra qualitativa – realizadas com mulheres grávidas para entender como as estão lidando com a epidemia do zika vírus, quais são os hábitos de prevenção e temores quanto à doença. Os dois estudos foram desenvolvidos pelo Instituto Patrícia Galvão, organização voltada à comunicação e direitos das mulheres, em parceria com os institutos de pesquisa Locomotiva e Data Popular e apoio da, Fundação Ford, ONU Mulheres e Plataforma BabyCenter.
Com o objetivo de contribuir para criar estratégias de informação e proteção, os resultados dos levantamentos serão debatidos no encontro por pesquisadores da Fiocruz e representantes das organizações apoiadoras. A Fiocruz e o Instituto Patrícia Galvão integram a Sala de Situação: Direitos das mulheres, direitos sexuais e reprodutivos em tempo de epidemia da Síndrome Congênita do Zika Vírus, com a ONU Mulheres (entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres) e o UNFPA-Fundo de População das Nações Unidas e a Organização Panamericana da Saude/Organização Mundial da Saúde.
“Esse é um trabalho de grande interesse para a instituição, que atua diretamente, em diversas frentes, de várias questões relacionadas à zika. E as pesquisas realizadas pelo Instituto Patrícia Galvão trazem resultados importantes, que devem ser discutidos por médicos/as, pesquisadores/as, a mídia e a sociedade em geral – afirmou o vice-presidente de ambiente, atenção e promoção da saúde da Fiocruz”, disse Valcler Rangel.
As pesquisas – Com o objetivo de mapear como as mulheres grávidas têm lidado com o assunto, o Instituto Patrícia Galvão realizou duas pesquisas de opinião – uma qualitativa e outra quantitativa.
Realizada em julho, a pesquisa quantitativa obteve resposta de 3.155 usuárias que se encontravam grávidas ao responder o questionário. Já a qualitativa, realizada em abril, incluiu seis grupos de discussão com mulheres grávidas das classes CD, que acompanhavam a gestação pelo SUS em três cidades brasileiras: Recife, João Pessoa e São Paulo.
De acordo com o estudo, as mulheres grávidas revelaram insatisfação com a falta de o a exames e informação sobre as formas de contágio e prevenção ao zika vírus e seus efeitos sobre o desenvolvimento dos bebês: 90% queriam realizar testes para saber se tiveram zika e 52% afirmaram que gostariam de ter feito mais exames de ultrassom durante a gestação para acompanhar o desenvolvimento dos bebês. Entre as que faziam o pré-natal no SUS esse percentual atinge 70%, ante 43% das assistidas por convênios médicos particulares.
Para a representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, as pesquisas relevam o impacto da epidemia do vírus zika na vida das mulheres e atualizam as necessidades delas sobre o o e a garantia dos direitos sexuais e direitos reprodutivos. “As mulheres dão a rota do que precisa ser feito para que os seus direitos humanos sejam assegurados nessa crise sanitária. Os dados trazem elementos mais concretos e atuais sobre os ajustes que precisam ser feitos nas estratégias de resposta à epidemia do zika e
à saúde sexual e reprodutiva. Pôr as mulheres no centro, serviços de qualidade e humanização são caminhos decisivos para que elas saiam mais fortes da epidemia do zika”, considera Nadine Gasman.
o a exames e informações – A pesquisa quantitativa revela ainda, entre outras informações, que praticamente um terço das grávidas (32%) estava em acompanhamento pré-natal, mas não tinham recebido nenhuma orientação sobre o zika vírus.
Com isso, apesar de 62% das mulheres afirmarem saber que o bebê pode vir a ter problemas de saúde caso a mãe tenha zika, faltam informações que podem ser decisivas para a prevenção: 33% acreditam, por exemplo, que o contágio do feto ocorre apenas nos primeiros três meses – hipótese que chegou a ser cogitada cientificamente, mas que já foi afastada.
Outra questão importante captada na pesquisa é a relação entre a perspectiva das mulheres e as políticas públicas. Enquanto as ações do setor público focam principalmente em campanhas para o combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti, as mulheres grávidas querem ter o a testes e exames e orientações precisas sobre como evitar o contágio em si mesmas e nos bebês.
O levantamento revela também uma forte demanda por políticas de saneamento básico: 100% das mulheres entendem que a falta de serviços de água, esgoto e coleta de lixo pode causar doenças e 76% consideram que, frente a uma epidemia como a atual, o governo põe a culpa na população, mesmo onde não há coleta de lixo e água encanada. Outra lacuna identificada refere-se às políticas de planejamento reprodutivo, em especial o o a contraceptivos de curta e longa duração: apenas 32% das mulheres disseram que sua gravidez foi planejada.
A cobertura da mídia também foi abordada no estudo. Na pesquisa, as mulheres opinaram sobre qual deveria ser o foco da mídia e informaram que a TV, rádio e internet são os meios de comunicação que elas mais recorrem na busca de informações sobre a epidemia de zika.